08 setembro 2017

para morrer

No dia 28 de Julho, às três da tarde, estavam reunidos nas instalações da administração do HSJ os estados-maiores das três entidades envolvidas no Dossier Continente. Pelo HSJ, o seu presidente, Dr. Oliveira e Silva e o administrador, Dr. Luís Porto Gomes.

Pelo Continente, o seu presidente, Eng. Luís Moutinho, o administrador, Eng. Diogo Mendes, e ainda o Dr. Miguel Flórido, presidente da Sonae Retail Properties, a empresa do grupo Sonae que se encarrega da construção dos edifícios dos supermercados (o Continente  ocupa-se apenas da sua exploração comercial).

Pela Associação Joãozinho, os seus três directores, mais o Presidente do seu Conselho de Mecenas, Eng. Vergílio Folhadela, administrador do Grupo RAR, um dos grandes mecenas do Joãozinho.

Estávamos ali reunidos naquele dia para apresentar ao jurista contratado pelo HSJ o Dossier Continente e responder a todas as suas perguntas, a fim de que ele pudesse elaborar o Parecer que devia acompanhar o Dossier para o Ministério da Saúde.

Chegou quarenta minutos atrasado, sentou-se no topo da mesa,  e apresentou-se: Vasco Moura Ramos. Claramente, não sabia ao que vinha, embora o HSJ já dispusesse do Dossier há várias semanas e lho pudesse ter enviado, ou ele o pudesse ter pedido.

Dei-lhe uma cópia do Dossier, devidamente encadernado, e, sendo eu o principal autor do documento, fui eu sobretudo a  falar.

Para mim, falar de qualquer assunto respeitante ao Joãozinho era um prazer e sobre o Dossier Continente o prazer era exponenciado. Penso que, por vezes, corria o risco até de me tornar maçador porque mencionava todos os detalhes e até a génese da ideia cujo curso depois descrevia até ao ponto em que nos encontrávamos.

Assim fiz na naquele dia. Relatei a história, com todos os pormenores, pondo ênfase no facto de a operação ter sido aceite pelo Secretário de Estado da Saúde - o actual e também pelo anterior - e eu próprio indiquei ao Dr. Moura Ramos o enquadramento jurídico, exposto na carta que capeava o Dossier. Claro que não deixei de mencionar o precedente respeitante à Fundação McDonald.

Não me recordo de o Dr. Vasco Moura Ramos ter colocado qualquer questão significativa, provavelmente porque não tinha estudado previamente o Dossier. Aquele era claramente o seu primeiro contacto com ele.

Saímos da reunião cerca das quatro e meia da tarde e rapidamente dispersámos. Eram todas pessoas muito ocupadas aquelas que tinham estado ali, e todas pareciam ter outros compromissos nessa tarde. Depois de me despedir, saí a conversar com o Eng. Vergílio Folhadela que, a certa altura, me perguntou.

-Conhece este advogado ...?

-Não...

-Suponho que ele é da empresa de advogados do Paulo Rangel...

-A Cuatrecasas...?

-Sim...

Não liguei ao assunto. O meu comentário no Porto Canal sobre o Paulo Rangel e a Cuatrecasas  tinha ocorrido há mais de um ano e estava já fora do meu espírito. É certo que desde o mês anterior, eu tinha em casa uma convocatória do DIAP de Matosinhos para comparecer lá em Setembro. Mas eu pensava que era a queixa apresentada contra mim pelas deputadas do Bloco de Esquerda, que já tinha vindo nos jornais.

Chegando a casa, por curiosidade fui ver à internet. Lá estava, Vasco Moura Ramos, advogado da Cuatrecasas. Tinha ocupado também um lugar no Ministério da Economia do Governo de Passos Coelho. Se eu ainda tinha dúvidas que a Cuatrecasas era uma célula partidária, passei a ter menos.

Como universitário, chamou-me a atenção um pormenor do currículo do Dr. Vasco Moura Ramos - era assistente de Universidade de Coimbra há dezassete anos. Pensei: "Este é dos tais que nunca vai conseguir chegar a professor".

Dias depois, o presidente do HSJ informou-me por e-email que tinha acabado de enviar para o Ministério da Saúde o Dossier Continente acompanhado do Parecer do Dr. Vasco Moura Ramos.

Pedi-lhe para me enviar o Parecer.

Respondeu-me que estava impedido de o fazer por razões de sigilo profissional invocadas pelo jurista.

Fiquei para morrer.

E foi assim que parti para férias, estávamos já em Agosto.

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